domingo, 27 de janeiro de 2013

Solitário

O cappuccino parecia amargo quando tomado sozinho. O céu não parece tão azul quando admirado sozinho. Os dias parecem cinzentos e longos quando atravessados sozinho. A vida não parece tão bela quando vivida sozinho.

Quando se esta sozinho, tudo parece estar ao contrário. A beleza e a magia que pairavam no ar, na vida, tudo some. Ela se foi. E agora estou sozinho. Na verdade, nem tão sozinho. A vodca me acompanha. A melancolia me possui. Já não é mais como antes. Nada é mais como antes.


Mas eu lembro. Eu mantenho. Os dias ensolarados, os céus azuis, a alegria compartilhada, o tempo aproveitado; o tempo compartilhado. O amor compartilhado. A vida compartilhada. Tudo começou com um sorriso, um comentário constrangido, um cumprimento encabulado. Que logo partiram para longas conversas agradáveis, interesses mútuos, companhia... Amor... As coisas aconteceram numa velocidade que nunca soube descrever. Chegou uma hora em que não soube mais o que sentir. Tudo que sabia era da luz que irradiava dela, aquela estrela tão bela, tão minha... Éramos um só. Compartilhávamos mais do que sentimentos, mais do que tempo, mais do que a vida; agora a garrafa esta vazia. E tudo queima aqui dentro.

Uma criança passa por mim e se preocupa ao ver uma lagrima cair de meus olhos ao chão.

Mas eu não me importo.

Um grupo de jovens esbarra em mim e se desculpam, descontraído.

Mas eu não me importo.

Um cachorro late quando sem querer piso em sua pata.

Mas eu realmente não me importo.

Eu não me importo mais. Nada me importa mais. Apenas caminho, perdido em devaneios, lagrima e angústia.

E por um momento, por um misero momento, eu a vi. Radiante e luminosa como sempre. Uma luz; uma estrela; um farol. Eu chamei, supliquei, gemi uma única palavra, um único nome. Foi quando ela me atingiu. A luz me acertou. As luzes me acertaram. Os faróis do caminhão que fez meu corpo cair tão levemente no asfalto me cegaram. Cegaram meu pobre e ferido coração, embaçaram minha visão. Agora, de tão longe assisto meu corpo ser socorrido. De tão longe... E mais perto dela. 

Talvez eu a encontre. Talvez eu a reveja agora. Talvez... Eu não esteja mais sozinho...

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