Fato. Provas. Sim, o “Para Sempre” nunca existirá. Não aqui. Não em meio a tanta corrupção, não em meio a tanto Antropocentrismo. Acordar e ter de olhar para o mesmo rosto angelical todas as manhãs e ser sucumbido por tão grande beleza me parece bem agradável e seria espetacular eternizar isso tudo. Será? Bom.. creio que não é tão simples quanto se imagina.
Depender de amores, depender de âncoras falhas já não é mais meu estilo egocêntrico de vida. Relacionamento funciona basicamente como um Efeito Cadeia Alimentar. Não necessariamente o maior se destaca sobre o menor, mas o mais forte dominando o mais fraco. Tudo depende de suas armas de caça e defesa. O mais forte destroça, atropela e passa por cima do mais fraco e ele não pode ter outra reação a não ser tentar correr e sobreviver. O mais fraco não vive, sobrevive. Ele se encaixa numa enorme bola de neve de subserviência e de lá não sai mais. Assim é o amor. Sempre colocando suas provações à tona e deixando em nossas mesas notas abaixo de 1.
Mentira é se disser que nunca acreditei em um amor a típica moda européia. Passeando pelos canais de Veneza remando um barco olhando fixamente para Ela, enquanto segurava uma sombrinha salmon com rendinhas rosas. Sim. Nada disso existiu, tudo isso sempre foi um sonho a parte que meu eu fraco sempre quis, mas o efeito da cadeia fazia seu papel todas as manhãs ao me acordar, não vendo Ela na minha cama. O mais forte destroçava meu sonho fraco. Ilusão.
– Garçom, um Spritz para dois por favor.
Estava ali mais uma vez, sendo consumindo pela parte fraca da cadeia, aquela que não possuía maldade, sem venenos mortais. Estava como um animal indefeso correndo feliz pelos campos. Só tinha olhos para ela. Enquanto o mais forte se escondia esperando a hora perfeita para dar o bote fatal. E assim sucedeu. Quando eu menos esperava a ilusão venenosa e ágil como sempre tomou seu lugar na cadeia e atropelou meus sonhos mais uma vez. Morri. Corroeu.
Onde está o meu café da manhã? Aquelas mãos macias acariciando meu rosto? Onde? Nunca existiu. Aplicaram em minha parte fraca um veneno paralisante que me deixou em estado de êxtase. Não conseguia pensar, agir.. tão pouco falar. Queria estar sonhando, para não sentir tanta dor e tanto desprezo. O para sempre pode até não existir, mas pensei que essa dor seria eterna porque não estava cicatrizando de maneira alguma.
Até que a parte forte do efeito cadeia surgiu em mim. Soube o que deveria fazer. Somos iguais aos outros animais da cadeia, precisamos matar para sobreviver. Assim fiz, assim agi. Havia uma necessidade mútua de um sobreviver e o outro morrer. Matei a ilusão, destruí o sonho. Para sempre não existia mais. Pelo menos não no meu mundo.
Acordei mais uma vez. Sim, ela não estava ali e nunca esteve. Porém a tristeza não me dominou, havia sentido o gosto de ser o topo da cadeia alimentar. O efeito bumerangue taí, provando, levando e trazendo o que há de melhor e pior no Amor.