segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Um infeliz

Morreu mais um infeliz. Ele se comprazia com isso, se comprazia com aquilo e hoje não se compraz com mais coisa alguma. Ele se doía disso, se doía daquilo e hoje não se dói de mais coisa alguma. Morreu. Sua morte foi isso: o termo de todos os seus prazeres e dores. A morte termina, não começa. Não pro defunto, pelo menos. E é do defunto que eu falo... Se há outrem a se comprazer com as mesmas coisas que o infeliz ou a se doer das mesmas coisas que ele, não são os prazeres e dores do finado que sobrevivem, mas os prazeres e dores desse outro alguém. Nada sobrevive à morte.


E os desejos do defunto espírito? Também cessaram. Se há algum sujeito a querer as mesmas coisas que o que morreu, ainda assim não serão os quereres do morto. Morto não deseja. Morto não sente. Que bom... o finado não sofre mais... não é mais infeliz o infeliz: não é. Mas também não tá feliz: não tá. Que triste... a morte findou sua infelicidade, mas não suscitou sua felicidade. A morte termina, não começa. Não pro defunto, pelo menos. E é do defunto que eu falo...


Morreu mais um infeliz. E não sinto pena dele. Não que eu careça de empatia: sou bem empático. Apenas não sinto a dor do defunto, porque o defunto não sente dor. O invejo, na verdade, no meu imo ser. A espécie de liberdade de que preciso não é fazer o que quero, mas não fazer o que não quero... e o defunto logrou maximamente essa liberdade que é não fazer o que não quer, ele nada faz. Ele não faz nada. O invejo, não sinto pena dele.


Morreu mais um infeliz... ah...


Wilton Bastos
040212

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