segunda-feira, 11 de março de 2013

A última crônica

“Hoje à noite eu morrerei”: acordei com esse pressentimento. Não, não pretendo me suicidar, pelo menos não nesse exato momento. Simples e tão somente acordei com esse pressentimento. Não sou de acreditar em exoterismo, sexto sentido, ou qualquer outro delírio do coletivo. Mas acordei com esse pressentimento. Não posso, pois, menoscabá-lo. Não quero menoscabá-lo. Hoje à noite eu morrerei. Isso me entristece...

Tudo bem, entristecer não é o verbo mais preciso ou adequado. Mas não gostaria de morrer agora. Não que esse seja um mau momento para morrer. Não o é, suponho. Sei lá se há bom momento para se morrer. E, não havendo deste, não haveria daquele. Paremos o devaneio: não quero morrer hoje. Não pelo mesmo motivo que motiva a maioria dos indivíduos a não se suicidarem. Não por qualquer instinto de autopreservação, de sobrevivência. Não por temer – embora a tema – a morte. Mas porque me angustia a ideia de motivar o luto de minha amada.

Felizmente nasci com a justa medida de egoísmo – e de vaidade –. Não me agrada a ideia de que alguém se doerá da minha ausência. Não me agrada a ideia de que alguém se doerá. Na verdade, para me valer do termo que inicialmente adotei, tal ideia me entristece, mormente quando me refiro a alguém querido. Ah, e ela me é querida. Ou era... hoje à noite morrerei. Suponho que os pretéritos sejam, pois, mais adequados quando da alusão a meus sentimentos...

Wilton Bastos
110313

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