quinta-feira, 4 de julho de 2013

doe sangue!


os pernilongos castigam meus pés
hey! ainda estou vivo, ainda corre sangue em minhas veias
eles sabem disso
e, por isso, castigam meus pés
“se é isso que cêis qué, vem pegá...”
é engraçado
estar empregado, sem tempo para escrever
ou sem nada para fazer, pensando em arrumar um emprego
um maldito pernilongo só precisa se preocupar em foder e chupar
no momento, ele chupa meu sangue
podia parar de escrever este lixo e pegar um, pelo menos um, no pulo
esmagá-lo na minha mão, ver quanto do meu sangue o maldito chupou
doação na marra
nós estamos sempre nos doando involuntariamente
ao governo, empresas, família, amigos, amores
eles tiram nosso sangue, nossa essência, e se vão, voam para longe
se você tiver a oportunidade, esmague um deles entre as mãos e veja quanto sangue de ti ele tirou
só no sentido figurado, ok?

terça-feira, 2 de julho de 2013

"É bom ficar só
Só somente
Somente só
Só na mente"

sexta-feira, 7 de junho de 2013

GOSTO

“Gosto do chato, do feio, do desconhecido. Gosto do mistério, da ferida ardente, de quem mente. Gosto do que é e do que deixa de ser, do que vem e do que vai, do que deseja e depois não quer mais. Gosto do ruim, do péssimo, do inesquecível. Gosto de quem sonha com o fim, de quem se envolve com quem não está a fim, de quem corre de mim. Gosto de quem vê, de quem pega, de quem quebra. Gosto da morte, da falta de sorte, do soco forte.
Gosto de mim.” 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Seja homem e não me siga; eu mesmo fugi de mim, e, agora, olho para o que eu fui – por muito tempo


E pensar que eu costumava ser visto na companhia de cervejas importadas e cigarros Lucky Strike e mulheres com tatuagens desconexas, e poetas herméticos, mais desconexos ainda. Tinha uma garota, Candy... Bom, o nome dela era Jennifer, na verdade, mas Candy lhe parecia mais atrativo. E um cara. Não lembro o nome dele agora, mas a poesia dele fedia a amor platônico. Tudo parecia mais atrativo – de dentro –, mas éramos só aquilo que se via, superficiais como os cinzeiros, onde descansavam nossos cigarros Lucky Strike; aliás, queimavam mais ali que em nossas bocas. Candy tinha uma boca sempre púrpura, como o coração estampado em sua coxa esquerda, que era acompanhado de uma faca e um terço. Ela e o poeta me acompanhavam, e as cervejas importadas vinham na rabeira.

Todos nós, e os outros também, escrevíamos; nos proclamávamos os malditos, os subversivos, os antis-sistema, a contracultura; usávamos toda e qualquer palavra que soava bacana nas nossas vozes cansadas, corroídas pelo cigarro e pelas noites mal-dormidas; o café... as calçadas geladas. Alternativos e destemidos! – que mudavam as próprias palavras quando o corretor ortográfico do computador dizia que estávamos errados. Na verdade, nossa falta de noção do ridículo e de qualquer discernimento nos fazia mudar as palavras sempre no momento errado; agir precipitadamente, tornando o texto mais espalhafatoso - e nada sincero. Éramos escandalosos em nossas palavras, tínhamos tudo - e tínhamos nada... Nunca contamos moedas do lado de fora de uma padaria, nunca comemos sentados numa calçada suja. Não sabíamos o que era gentileza; tampouco, escrever bem. Cuspíamos no chão, e entrávamos no café, a esquerda, para falarmos alto – que escândalo! – sobre como éramos bons naquilo que não fazíamos.

Aquelas poetisas (que nome escroto)... Bucetas molhadas que nada mais faziam, além de subir e descer, sem nenhum objetivo... Transar com uma delas era como ler um dos poemas que produziam. Palavras enfileiradas. Elas jogavam metade para um lado metade para outro e continuava parecendo com palavras enfileiradas; com nada. Só faziam sentido para elas e suas bucetas e para Candy e a tatuagem de coração púrpura com faca e terço. Ah! e quantas vezes eu pensei sair dali... e ir pra onde? Eles me respeitavam, de certa forma. A não ser por não serem sinceros com aquilo que lhes oferecia, mas o que lhes oferecia, meus contos, também não era nada sincero. Elas por elas...

Nós fazíamos saraus. SARAUS. E nos achávamos o máximo por isso. EGOS. Não tinha espaço para todos eles naquele pequeno palco, com microfone e banco de madeira, na rua 15...

Eu não volto mais lá...

sábado, 11 de maio de 2013

Homem Nuvem


Branca, pluma, macia, suave.
Queria ser uma nuvem. Ser arrastado pleo vento, abençoado pelo Sol...
Ausente do tempo, cada vez mais vivo, a cada momento. Cruzar os céus, imensidão azul divina, com pássaros ao meu redor, suas asas batendo para longe, livres, tão livres... Como eu queria ser uma nuvem.
Mas sou apenas um homem. Apenas um homem que quer ser nuvem.
E de repente, sou.
Vejo-me aqui, no céu, dançando na imensidão azul,. sendo levado pelo vento, abençoado pelo Sol... preso.
Vejo homens e mulheres o dia todo, todo dia. Andam, correm, vivem, choram, sorriem... quero ser como eles são, sentir o que eles sentem, viver como eles vivem...
Queria ser um homem.

domingo, 5 de maio de 2013

Estrada


Ia assim, meio assim meio assado.
Cantava, bebia, tragava e acelerava.
Chorava, gritava, bebia e acelerava.
Cochilava, lembrava, sorria e acelerava.
Urrava, sangrava, cochilava e acelerava.

E por entre quilômetros de lágrimas e madrugadas de cafeína e álcool  parou. Apenas parou. Desceu, olhou. Pegou uma pedra, a maior que tinha em volta e a soltou no acelerador. Entre uma tragada e um gole, assistia o show. Lentamente o carro descia, descia e descia, até cair de vez, se destruir e explodir. Ele sorriu. Secou uma lágrima perdida no canto do olho esquerdo, atirou a garrafa vazia para longe e começou a andar. Para longe também...

quarta-feira, 24 de abril de 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Cara Jéssica


Cara Jéssica Ingrid,

Antes de mais nada quero que saiba que desde a primeira vez que te vi, imaginei que seu nome fosse assim, bem incomum. E não é que acertei? O que leva alguém a colocar dois nomes fortes como esse em um filho? Não precisa responder, perguntarei para a sua mãe quando tiver a oportunidade. 

Bem, vamos parar de enrolação e ir direto ao assunto. Muito me agrada o fato de você ter entrado em minha vida, mas muito me desagrada o fato de tê-la deixado. Mas vamos parar de papo furado e ir direto ao que interessa realmente. 

Lembro-me como se fosse ontem. A noite já havia chegado e você apareceu na minha casa, pedindo comida. O prato principal daquele dia era pão com carne picada, ovo e queijo. Deixei que você entrasse e se acomodasse, coisa que você fez e muito bem, até parecia que estava em sua própria casa. Por algum motivo, você não foi embora. Por algum motivo eu deixei que você ficasse. 


Lembro-me que só havia um colchão disponível e tivemos que dividi-lo. Deitamos, então, eu, você e o meu jacaré de estimação e de pelúcia. Por algum motivo, nenhuma de nós duas conseguiu dormir naquela noite. Ficamos acordadas durante um longo tempo antes de você virar e começar a me contar sobre a sua vida. Nunca esquecerei de tais histórias divertidíssimas. Curiosa, você insistiu para que contasse algo sobre mim também e assim nós adentramos a noite.

Por algum motivo, em algum momento, eu senti que nos tornaríamos grandes amigas. Dentre todos os momentos, existe um que eu sempre lembrarei com carinho. Depois de muita conversa e papo furado você virou para o lado me abraçou. Nosso abraço durou alguns longos minutos. Em um susto você soltou-me e disse:

- Você pode me prometer uma coisa?

- Depende.

- Só direi se você disser que promete.

A curiosidade sempre foi maior do que eu, então, eu assenti.

- O quê é que você quer que eu prometa?

- Promete que não vai me abandonar? Você não sabe ainda, mas eu sou uma pessoa muito complicada. Às vezes eu dou valor demais a coisas que não tem valor e esqueço que as coisas importantes precisam muito da minha atenção. E então, você promete?

- O quê é mesmo que você quer que eu prometa?

- Que você nunca vai desistir de mim.

- Eu prometo.

Meu maior erro foi ter prometido isso a você. Qual foi a última vez que eu tive notícias suas? Qual foi a última vez que você deu sinal de vida?

Eu sempre fui uma pessoa muito fechada, difícil de ser cativada. A única coisa pior do que isso é saber que quando sou cativada é quase impossível de me descativar. Você sumiu. Simplesmente sumiu. Sinto a sua falta, mas você some. Você faz questão de sumir. E eu fico aqui, ansiosa, esperando o seu retorno.

Saiba que eu espero, mas não espero. Quero, mas não quero. Você já me magoou muito com suas atitudes e com a falta delas. Eu não aguento mais ser a sua última opção, só ser procurada quando nenhum outro amigo está disponível. Preciso de amigos, de amigos verdadeiros. De verdadeiros amigos.

Amizade deveria ser algo sagrado, algo plantado e regado por ambas as partes. De que adianta um dos amigos querer em vão? Não deveriam os dois fazer algum esforço para a amizade durar?

Não posso obrigá-la a voltar, de maneira nenhuma. A única coisa que eu peço é que volte, mas volte de vez. Mas, se não quiser voltar, não volte nem por um instante, pois meu coração pulsante não aguenta mais viver assim, com uma dor gritante.

Com carinho, Bruna.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Conto: Outro Alguém

Victor e Alice viveram em seis meses o que poucas pessoas viveram a vida toda. Foi um sentimento tão puro e intenso que poucos entenderiam. Almas gêmeas muitos diriam. 
Em pouco tempo eles provaram do suspense e da emoção que só um amor em segredo pode proporcionar. Mas provaram também do ciúme e da imaturidade que a pouca experiência os presenteou sorrateiramente. 

Antes do fim, partilharam sonhos e as afinidades de uma vida que poderia ter existido se não fosse pelo orgulho. Partilharam a mesma canção. Foram as melhores e as piores lembranças de ambos.

Victor a amou de verdade? Ela não saberia dizer. 
Mas ela o amou como nunca amará ninguém e com um tipo de amor que talvez muitos nunca venham a conhecer. 

O quanto Victor sofreu? Ela também não saberia dizer. 
Mas ela sofreu como se parte de seu coração tivesse sido dilacerado e seu coração sangrou, sangrou em segredo. Feridas tão profundas que nunca cicatrizariam. Feridas que sangrariam para sempre. Mas que tipo de amor poderia fazê-la sangrar até o fim? 

Alice precisava tentar então ela jurou que daria seu coração a primeira pessoa que ela julgasse merecedora e que tivesse por ela um amor semelhante ao que ele um dia teve. Quando em fim encontrou tal pessoa, ela reuniu o pouco da força que ainda lhe restava. 

Antes de jurar novamente seu amor a outro, ela tentou ter o amor de Victor por uma ultima vez. Mas isso apenas fez com que sua ferida sangrasse ainda mais, pois o orgulho impediu que ele enxergasse a ultima chance que teriam antes que ela desce seu coração a outro. 

Com o pouco de vida que lhe restava, Alice fez um voto a outro. Concluiu um pacto sagrado. Um pacto que não poderia ser quebrado. 

Victor despertou tarde de mais... 

Alice sempre se mantém distante quando percebi que seus sentimentos podem vir a transpor a razão. Talvez ele nunca a entenda. 
Todas as vezes que ela desaparece é pelo simples fato de achar que o amor que tiveram é puro demais para ser maculado por uma conduta imprópria. 

O que os consola, mas que também os machuca é saber que amor que tiveram outrora, foi verdadeiro... 
Ambos viveriam a se perguntar: 
O que poderia ser inexorável como a morte? 
O que poderia os lançar a própria sorte? 
O que poderia lança-los na escuridão? 
O que poderia joga-los nas trevas e no abismo da solidão? 


A resposta era simples e era fácil de encontrar, mas eles só a teriam no silêncio de um olhar... 

sábado, 13 de abril de 2013

Um Banco de Parque


Havia um banco de parque. As folhas do outono cobriam ele e o chão e as sombras das árvores o deixavam sempre refrescado. Ele era um banco comum: madeira e ferro, pronto para confortar caminhantes cansados, pensadores, mães e pais cujos filhos precisavam correr por aí, casais apaixonados, idosos com muitas memórias...

Aquele banco via todos os dias uma infinidade de coisas. Era provavelmente o mais vivido do parque, porque cumpria sua função com menos infelicidade; seus colegas sempre reclamavam do peso, do vandalismo, da sujeira, das horas de trabalho. Nosso amigo banco, sobre quem esta história fala, ao contrário, gostava de tudo aquilo e usava todas aquelas horas para aprender.

Observava dali de seu canto, quieto e compenetrado, a vida das pessoas que passavam pelo parque. Via o garotinho andando de bicicleta com os amigos, via a menina soprando bolhas de sabão. Depois os via crescer e, muito vermelhos, caminhar de mãos dadas. Assistia aos seus filhos em carrinhos de bebê e depois os correrem por aí, brincando de pega-pega. Então via os dois envelhecerem (e ouvia comentarem de seus bebês que cresceram).

O banco também escutava pensamentos e reflexões. Via estudantes fazerem as mais complexas lições e leitores lerem os mais fantásticos livros. Via e ouvia inúmeras histórias todos os dias. Não só de pessoas. Via os joões-de-barro construindo suas casinhas, as abelhas se aproximando das flores e cada outra pequena delicadeza da vida.

Mas o banco, pobrezinho, envolto em sua admiração pelo mundo, esquecia-se de que o parque não era o mundo; havia mais para se ver e viver. Coisas que ele só podia imaginar quando ouvia da boca dos homens e mulheres que por ali passavam. Mais que isso, o banco concentrava-se tanto na vida ao seu redor que mal lembrava-se de que podia ele mesmo criar sua história para ser lembrada.

Um dia, o parque estava vazio. O dia estava nublado e havia chovido. Normalmente a chuva não o incomodava tanto, pois assim como todo o resto ele a via como algo belíssimo. Mas, por um motivo ou outro, naquela tarde ele sentia-se meio para baixo e a chuva só piorou as coisas.

Foi em meio às nuvens e ao silêncio que ele olhou para o lado e viu. Ali, perto de um poste, estava o banco mais lindo que ele vira, distraída olhando para a frente. Como se os balões coloridos que o homem dos doces vendia estivessem amarrados nele e levantando-o, ele percebeu que se apaixonara. Agora ele poderia escrever sua própria história.

- Ei. Oi! Er... você é uma garota, certo?
- Claro que sim. Que pergunta!
- Desculpe - o banco precisava perguntar. Sabe como é, eles são bancos! - bom, você acha que poderíamos, hum, não sei. Fazer alguma coisa uma hora dessas?
- Que tipo de coisa?
- Não sei... olhar as estrelas?
- Já faço muito isso...
- Mas não com companhia.

Sorriram um para o outro. O sol apareceu, mais tarde, apenas para se pôr gracioso. E os dois bancos puderam finalmente parar de sonhar com a vida do parque e começar a sonhar com suas próprias estrelas, juntos, todos os dias de suas vidas de bancos de parque.