Havia um banco de parque. As folhas do outono cobriam ele e o chão e as sombras das árvores o deixavam sempre refrescado. Ele era um banco comum: madeira e ferro, pronto para confortar caminhantes cansados, pensadores, mães e pais cujos filhos precisavam correr por aí, casais apaixonados, idosos com muitas memórias...
Aquele banco via todos os dias uma infinidade de coisas. Era provavelmente o mais vivido do parque, porque cumpria sua função com menos infelicidade; seus colegas sempre reclamavam do peso, do vandalismo, da sujeira, das horas de trabalho. Nosso amigo banco, sobre quem esta história fala, ao contrário, gostava de tudo aquilo e usava todas aquelas horas para aprender.
Observava dali de seu canto, quieto e compenetrado, a vida das pessoas que passavam pelo parque. Via o garotinho andando de bicicleta com os amigos, via a menina soprando bolhas de sabão. Depois os via crescer e, muito vermelhos, caminhar de mãos dadas. Assistia aos seus filhos em carrinhos de bebê e depois os correrem por aí, brincando de pega-pega. Então via os dois envelhecerem (e ouvia comentarem de seus bebês que cresceram).
O banco também escutava pensamentos e reflexões. Via estudantes fazerem as mais complexas lições e leitores lerem os mais fantásticos livros. Via e ouvia inúmeras histórias todos os dias. Não só de pessoas. Via os joões-de-barro construindo suas casinhas, as abelhas se aproximando das flores e cada outra pequena delicadeza da vida.
Mas o banco, pobrezinho, envolto em sua admiração pelo mundo, esquecia-se de que o parque não era o mundo; havia mais para se ver e viver. Coisas que ele só podia imaginar quando ouvia da boca dos homens e mulheres que por ali passavam. Mais que isso, o banco concentrava-se tanto na vida ao seu redor que mal lembrava-se de que podia ele mesmo criar sua história para ser lembrada.
Um dia, o parque estava vazio. O dia estava nublado e havia chovido. Normalmente a chuva não o incomodava tanto, pois assim como todo o resto ele a via como algo belíssimo. Mas, por um motivo ou outro, naquela tarde ele sentia-se meio para baixo e a chuva só piorou as coisas.
Foi em meio às nuvens e ao silêncio que ele olhou para o lado e viu. Ali, perto de um poste, estava o banco mais lindo que ele vira, distraída olhando para a frente. Como se os balões coloridos que o homem dos doces vendia estivessem amarrados nele e levantando-o, ele percebeu que se apaixonara. Agora ele poderia escrever sua própria história.
- Ei. Oi! Er... você é uma garota, certo?
- Claro que sim. Que pergunta!
- Desculpe - o banco precisava perguntar. Sabe como é, eles são bancos! - bom, você acha que poderíamos, hum, não sei. Fazer alguma coisa uma hora dessas?
- Que tipo de coisa?
- Não sei... olhar as estrelas?
- Já faço muito isso...
- Mas não com companhia.
Sorriram um para o outro. O sol apareceu, mais tarde, apenas para se pôr gracioso. E os dois bancos puderam finalmente parar de sonhar com a vida do parque e começar a sonhar com suas próprias estrelas, juntos, todos os dias de suas vidas de bancos de parque.